quinta-feira, 19 de outubro de 2017

OPINIÃO! «O Reino do Meio», José Rodrigues dos Santos

Título: O Reino do Meio
Livro 3 da Trilogia do Lótus
Autor: José Rodrigues dos Santos 
Edição: Gradiva, 
Ano: Setembro de 2017  ‧ 
isbn: 9789896167820

Sinopse:
"A guerra rebenta em Espanha e o Japão invade a China. Uma relação extraconjugal nos Açores, o atentado contra Salazar e as intrigas palacianas em Tóquio aproximam o coronel Artur Teixeira do cônsul Satake Fukui na mais imprevisível e perigosa das cidades - a Berlim de Adolf Hitler.
Lian-hua, a chinesa dos olhos azuis, está prometida a um desconhecido quando vê os japoneses entrarem em Pequim e a sua vida se transforma num inferno. O mesmo espetáculo é observado pela russa Nadezhda Skuratova em Xangai, onde se apaixona por um português que a forçará a uma escolha impossível.

A Berlim do blackout, dos boatos e das anedotas, do Hotel Adlon, das suásticas que brilham à noite e das lojas vazias com vitrinas cheias; a Pequim das mei po casamenteiras, dos chi pao de seda, dos cules e dos riquexós; a Tóquio do Hotel Imperial, dos golpes no Kantei, do zen e dos códigos de honra giri e ôn; e a Xangai da Concessão Internacional, dos portugueses do Clube Lusitano, dos néones, do Bund, das taxi-girls russas e dos bordéis.
Senhor de uma prosa sem igual, José Rodrigues dos Santos está de regresso ao grande romance com a conclusão da história inesquecível das quatro vidas que o totalitarismo moldou. Lendo-se como um romance autónomo, O Reino do Meio encerra em grande estilo a polémica Trilogia do Lótus, uma das mais ambiciosas e controversas obras da literatura portuguesa contemporânea."

Críticas da Imprensa:
Um dos pesos-pesados das letras lusófonas."
Historia, França

Excertos:
"A explosão reverberava ainda nos tímpanos de Artur, que sentiu o Buick abanar e o ar vibrar no momento do grande estrondo. Encolheu-se ao lado do automóvel e, ao abrir os olhos, apercebeu-se de uma enorme coluna de fumo negro que se erguia mesmo por cima dele. Pedaços de terra e asfalto e ainda pedrinhas começaram nessa altura a chover sobre a rua por entre uma densa nuvem de pó, obrigando-o a pôr as mãos em torno da cabeça para se proteger.
Ouviram-se gritos e o som de pessoas a correr e, passada a surpresa inicial, o oficial descortinou Salazar de pé e imóvel junto à porta do carro, o fato negro coberto de poeira; dir-se-ia um espantalho plantado no passeio.
«Senhor doutor!», gritou uma voz de homem, tão alterada que roçava o pânico. «Senhor doutor!»
«Valha-me Deus! Virgem santíssima!», berrou uma mulher. «O que aconteceu? O que aconteceu?»
«Vossa excelência está bem? Ficou ferido?» A desorientação parecia generalizada, apesar de os agentes da PVDE terem acorrido prontamente para se assegurarem de que o presidente do Conselho se encontrava bem e procurarem controlar a situação na rua, estabelecendo de imediato um perímetro de segurança. Também Artur se precipitou para ver como estava o ditador e, ao chegar ao passeio, deu com ele a sacudir a poeira dos ombros antes de sair da letargia e romper o mutismo.
«Bem, vamos à missa.»"

Opinião:
O encaixe final neste último volume da trilogia do Lótus, as personagens que até então tinham histórias independentes, cruzam-se no mesmo local.

A vida de Artur foi a que mais me apaixonou e que me cativou desde o início, aliás, já desde o primeiro volume. Artur é um homem apaixonado pela vida e pelo trabalho. É também um homem com carácter, porém, neste último volume deixa-se levar por sentimentos complexos que o colocam numa situação complicada na sua relação matrimonial. Ultrapassados esses breves momentos, somos levados a acompanhar o percurso na sua carreira e os actos de coragem que esta personagem desenvolve.

Também senti admiração pelas restantes três personagens, Satake Fukui, Lian-hua e Nadezhda Skuratova. E de entre estas, mais uma vez, surpreendeu-me a força e resistência de Nadezhda, que apesar de duramente marcada pelo passado e pelos "actos de loucura" do pai, consegue mesmo assim ultrapassar as dificuldades que a vida adulta impõe, pela independência e labor diários.

Quanto a Satake Fukui, demonstrou claramente um sentido de honra e coragem, e teve ainda o papel importante de conhecer Artur, e acompanharem o percurso um do outro, na Alemanha, um país que apresentava várias contradições ao nível do poder político, e também puderam observar um país que possuía uma fraca consideração pela dignidade humana no que aos judeus respeitava.
Lian-hua, que em tempos sonhava com o seu casamento nos mesmos moldes que os europeus, ou seja, apenas casaria por amor e seria ela a escolher o seu companheiro para uma vida, vê-se primeiramente numa situação de possível "arranjo" com um homem de bem e com posses, fruto da escolha dos pais. Porém, a sua vida complica-se ainda mais quando o seu pai é preso, e vê-se forçada a desistir dos seus mais belos sonhos para impedir o infeliz destino reservado ao seu pai.

Um livro poderoso, uma leitura imperdível!!!!


Boas Leituras!

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